quarta-feira, 1 de junho de 2016

O reencontro

E sentaram-se um de frente para o outro. Há tempos que não exibiam olhares tão eufóricos. Os olhos de Jones, oscilavam com certa ansiedade, como que delineando os feições finas e doces do rosto de Rosana. Ela, por sua vez, demonstrava certa timidez eivada de malícia, ora com olhos cabisbaixos, ora levantando levemente um olhar desejoso do olhar de Jones. A luz da vela que estava sobre a mesa, roseava-lhes as faces, refletindo nos olhos de ambos, conferindo-lhes um tom ardente. Lenta e timidamente, as mãos se tocam. No toque suado das mãos sobre a mesa, manifestava-se exteriormente, aquilo que reinava interiormente: uma paixão irresistível, uma tórrida atração que queimava-lhes o interior, e que assemelhava-se-lhes o coração a uma fornalha. Suas almas estavam irrequietas, não suportavam mais o tormento de estarem presas nestes corpos mortais que insistiam em mantê-las afastadas. O Olhar de Jones parecia querer sequestrar Rosana, e lançá-la dentro de si, num doce cárcere privado, onde a acorrentaria ao coração e alimenta-la-ia com os mais ternos beijos; queria fazê-la perder-se no abismo de sua alma. Rosana permitia-se ser esquadrinhada e praticamente engolida pelo olhar sedento de Jones. Aquilo acariciava-lhe o ego e ardia ainda mais aquela chama que teimava em crepitar dentro de si, mesmo com os rumos que há muito o destino - e suas escolhas - lhes havia preparado, distanciando-os por longo período, tornando suas almas entes errantes no mundo obscuro e traiçoeiro das paixões. 

- Não pedirá nada? - perguntou Jones

Rosana arfava intensamente à primeira onde sonora da voz propositalmente grave de Jones que tocara seus ouvidos. Certamente que o desejo que estava por explodir de seu peito a fazia querer dizer que ela não queria pedir nada, além de que ele a tirasse daquele lugar e a levasse para casa, onde poderiam render-se aos deleites irrestritos do amor. Rosana não suportava mais a impossibilidade tocá-lo de forma mais íntima e reviver os ditosos dias em que ardiam de amor no leito conjugal! Se há algo, além de tudo mais, que Jones e Rosana tinham lancinantes saudades da época de casados, era das noites em que abandonavam-se ternamente um nos braços do outro e amavam-se com devoção. Na iminência de pedir um prato, o que de fato era objeto de desejo de Rosana, eram os lábios joviais e apolinicamente bem delineados de Jones. A boca de Jones atraía a de Rosana, mas havia algo, não  quase metafísico como o cheiro de paixão que pairava entre os dois, mas algo físico que como um juíz de pugilismo, punha-se alí, impávido e inerte: a mesa. Era imperioso que este entrave fosse removido e que seus corpos pudessem tocar-se. Mal terminaram de comer, Jones, sem deixar de fitá-la um segundo, talvez por medo de que um habilidoso ladrão de coração roubasse o seu, ergue o braço e mesmo sem ver o garçom, pede a conta. Depois de cumprir a regra cavalheiresca de pagar a conta, Jones levanta-se, deixando cair displicentemente o guardanapo que estava ao seu colo, dirige-se rapidamente para as costas de Rosana e antes que ela se levante, ele se precipita e puxa-lhe levemente a cadeira. Não é espantoso como o cavalheirismo - simples e discreto - é deveras funcional para fazer derreter-se ainda mais uma moça como Rosana?

Enquanto puxava a cadeira, não conseguia tirar os olhos dela, e continuava a olhá-la profundamente pelas costas, como que tentando atraí-la com o olhar, tão fixamente olhava. tendo levantado, ofereceu-lhe o braço, e de braços dados, saíram do restaurante, deixando pairar nos ares da noite carioca o aroma absolutamente irresistível e inebriante de um amor que depois de muito tempo, levantara velas novamente para fazê-los viajantes das águas mais profundas do oceano das carícias. O fogo do amor genuíno é inextinguível!

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